quinta-feira, 29 de novembro de 2012

1911 - A FAMÍLIA PEREZ DE TERQUE, NA ANDALUZIA, PARA AO BRASIL

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Entre o final do século 19 e o começo do século 20, milhares de europeus deixavam seus países rumo ao “novo continente” para fugir das guerras, das repressões políticas e principalmente, pelos graves problemas econômicos que a Europa sofria.

Centenas de milhares de famílias chegavam ao Brasil, na sua maior parte, pelo Porto de Santos. Ao desembarcarem, os imigrantes eram encaminhados para uma hospedaria, um imponente complexo construído em 1886, que funcionou até 1978 para receber estrangeiros. Na parte antiga desse complexoatualmente, está o excelente Museu do Imigrante, no bairro da Mooca, em São Paulo, que vale a pena conhecer.

Uma curiosidade: até hoje a hospedaria funciona na parte de traz do Museu como albergue noturno para “moradores de rua” e a partir da 16 horas,  as pessoas começam a chegar para pegar um lugar para dormir. É o único museu no mundo com essas características.

Nesse albergue, os estrangeiros ficavam hospedados por alguns dias onde eram registrados em livros, como podemos verificar na digitalização abaixo, inclusive, para fins sanitários.

De lá, as famílias eram encaminhadas para o interior, especialmente para as fazendas de café para trabalhar na lavoura, a fim de recomeçar a vida, pois, na Europa, a situação econômica e a falta de empregos era dramática.

Esse destino não foi diferente para a família PÉREZ, de Terque, na região da Andaluizia, Espanha.

De fato, a imigração de europeus espanhóis ocorreu em grande escala e mesmo com todas as adversidades, essas pessoas mostraram força e determinação, como tantos outros imigrantes. E, como veremos, foram vencedores.

Deixando para trás tudo o que tinham na Espanha, inclusive uma pequena propriedade rural onde trabalhavam no cultivo de frutas e oliveiras, meu bisavô Francisco Pérez Alcaraz (44 anos) e os demais membros da família: Maria Rudulpho Sanchez (minha bisavó – 40 anos), além dos filhos, Onofre Pérez Rudulpho (19 anos), Maria Pérez Rudulpho (17 anos), Francisco Pérez Rudulpho (meu avô – 13 anos), Luiz Pérez Rudulpho (07 anos), gêmeo de Carmem Pérez Rudulpho (07 anos), Francisca Pérez Rudulpho (06 anos), Bonifácio Pérez Rudulpho (02 anos) e o sobrinho Antonio Rodrigues Herrada (29 anos e solteiro), partiram do porto de Almeria em 09.11.1911.

Meu avô, por ter o primeiro nome de Francisco, recebeu a alcunha de PACO. Por sua vez, meu pai era conhecido como Zé do Paco, e ainda hoje, meus amigos mais próximos me chamam de Paco ou Paquinho.

Cabe aqui uma explicação sobre a origem do apelido “Paco”. É que na idade média os copistas de livros, para ganhar tempo, escreviam os textos com símbolos e palavras com abreviaturas. Portanto, o nome espanhol Francisco, também grafado de Phrancisco, era abreviado por Phco ou Pco, e depois, Paco, como conhecemos nos dias atuais.

Certa vez, vô Paco me contou que lembrava muito bem do dia em que partiram da Europa. Era novembro do ano de 1911, a Família PÉREZ, no meio da multidão, se agarravam uns aos outros para não se perderem no caminho do navio  de nome CAVOUR, que levaria a todos para uma terra tão longínqua e desconhecida.

Vô Paco descreveu a partida com um tom de saudosismo, quando então, aos 13 anos de idade, ficou na popa do navio observando a embarcação se afastar do continente até que num dado momento não era possível enxergar mais nada.

Posso imaginar como aquela família vivenciou aqueles momentos: medo, esperança, espectativa, sonhos e etc.

A partir daí, as dificuldades estavam apenas começando. O navio, com excesso de passageiros, não só provocava muito desconforto, mas também, as doenças com as quais os passageiros tinham de conviver.

Alguns desses passageiros morreram durante os 16 dias de viagem e obviamente não puderam ser dignamente enterrados.

Felizmente, o grupo familiar dos PÉREZ chegou ao destino a salvo em 25 de novembro de 1911, no Porto de Santos.

Depois de passar pela hospedaria, os imigrantes espanhóis seguiram para o interior do Estado de São Paulo.

A família foi direto para São Manuel-SP, na Fazenda Santa Margarida, uma das principais do município, que contava com 90 mil pés de café de 30 anos de idade, local onde conheceu minha avó DOLORES PÉREZ GAMBERO (sobrenome PÉREZ homônimo), natural de Málaga, também da Espanha.

Casaram-se em 22.04.1922 e tiveram 07 filhos: DOLORES PERES NOVELI (tia Nena, foi casada com Alberto Novelli); MIGUEL PERES (Tio Ito, escrivão de polícia, de quem eu ganhei um livro sobre Inquérito Policial e que guardo até hoje em minha biblioteca, foi casado com Maria  Valmira Francisco Peres), ANTONIO PERES PERES (tio Toninho, bacharel em direito e professor, foi casado com Elisabeth Quadros Barros Peres); LUIZ PERES (Tio Zinho, farmacêutico, foi casado com Helenice Aparecida Verniano Peres); MARIA PERES GIANESCHI (professora, foi casada com Jarbas Gianeschi) e MARLENE PERES MARTINS (professora, foi casada com Edwal de Souza Martins); e JOSÉ ORIVALDO PERES (o Zé do Paco, meu pai, advogado, foi casado com Ana Maria Gomes Pupo).

Ainda jovem, vô Paco mostrando inesgotável força de vontade e determinação de vencer, tinha aulas noturnas diárias de português e de contabilidade, mais precisamente, um antigo sistema contábil denominado Método das Partidas Dobradas (método contábil criado na idade média por um frei veneziano, universalmente utilizado pela contabilidade, cujo princípio fundamental é de que para cada débito – ativo – corresponde a um crédito – débito – de igual valor), sob a luz de um lampião.

A professora da fazenda, cujo nome desconheço, se dispôs a dar essas aulas particulares de noite para meu avô, sensibilizada pela incomum força de vontade daquele jovem estrangeiro que ainda tinha disposição para aprender, depois de 12 horas de trabalho pesado sob o sol tropical na roça.

Vô Paco tencionava ser um comerciante no futuro, não só para proporcionar uma qualidade de vida melhor à sua família, mas também, porque o trabalho na lavoura de café era estafante e penoso.

Alguns anos mais tarde vô Paco foi trabalhar pela primeira vez na zona urbana, em São Manuel, na Casa Rugai, que era um armazém de secos e molhados. Trabalhou ainda como pedreiro na década de 20 e ajudou a construir um dos mais belos prédios da cidade, hoje tombado. Era o prédio do Banco Comércio e Indústria, onde funciona a Drogaria Popular, na Rua XV de Novembro, bem no centro da cidade.

Depois, foi carroceiro e como a legislação da época exigia, teve de tirar a Carteira de Habilitação para poder transitar na cidade, no ano de 1938.

Por conta de uma úlcera detectada, resolveu mudar de atividade e assim, abriu uma pequena quitanda: a Quitanda do Paco, e mais tarde, o Bar do Paco, na Rua Epitácio Pessoa.

O referido estabelecimento evoluiu para um Armazém de Secos e Molhados que foi tradicional em São Manuel, no quarteirão seguinte do antigo Bar, fixando sua residência aos fundos do imóvel, na Rua Epitácio Pessoa n. 719, no Centro, que atualmente funciona uma loja de Roupas (imóvel adquirido em janeiro de 1941).

Esse armazém funcionou até o final da década de 70 e algumas lembranças são bem vivas para mim. O piso de ladrilho hidráulico colorido; o balcão e as prateleiras de madeira; os grandes sacos de cereais à granel, o baleiro de vidro, além de um dos mais fiéis empregados, o Sr. João Carcanha, contando com seus mais de 80 anos, ainda vivo.

Também chegou a ter um Sítio de nome São Francisco, de 32 alqueires, no Bairro Bela Vista, Município de São Manuel.

Vô Paco, que teve vida longa, faleceu aos 97 anos em 06.03.1995 e vó Dolores faleceu aos 82 anos (15.4.1903 a 13.4.1985).

Meu pai (JOSÉ ORIVALDO PERES), o caçula dos filhos, nasceu em 11.11.1941 e faleceu aos 66 anos em 26.08.2007. Era advogado, mas sua paixão sempre foi a política.

Com a política correndo em suas veias, desde criança foi “ademarista” (ADHEMAR DE BARROS, médico, foi governador do Estado de São Paulo e candidato a presidente da República).

Meu pai chegou a ser sócio de Vô Paco no armazém de secos e molhados e mais tarde foi proprietário de uma Transportadora.

Na década de 60/70 foi por duas vezes vereador municipal de São Manuel, numa época que a vereança não era remunerada.

Na década de 70/80 foi secretário particular do Dr. Adhemar de Barros Filho (Deputado Federal e Secretário de Estado), que também era presidente da fábrica de chocolates Lacta. Por essa razão, meu pai trabalhava a semana toda em São Paulo e residia num apartamento na Rua Aurora.

Nos períodos de campanha eleitoral, papai sempre era destacado para coordenar as campanhas dos candidatos da antiga ARENA na região oeste do Estado.

Neste período, ele recebia quase todas as autoridades e políticos que visitavam a Região e muitas fotos que registraram essas ocasiões estão guardadas com meu irmão Francisco.

Entre as décadas de 80/90, dedicou-se à advocacia. Nos anos 2000, ou seja, a partir de 2002, foi nomeado Diretor Jurídico do Município de São Manuel, até 2006/2007 quando adoeceu e foi obrigado a afastar-se do cargo.

Casou-se com ANA MARIA GOMES PUPO (professora) em 1964 com quem teve quatro filhos: eu, José Orivaldo Peres Júnior; Ana Lúcia Pupo Peres; Luciana Pupo Peres e Francisco Peres Rodolfo Neto.

A história da família PÉREZ é um exemplo de fibra, coragem, força de vontade, perseverança, trabalho e honradez.

Para consagrar tudo isso, os descendentes de espanhóis foram presenteados com a Lei da Memória Histórica do Governo Espanhol, editada em dezembro de 2010, permitindo que netos de espanhóis pudessem requerer, dentro de 02 anos de prazo, a cidadania espanhola.

De fato, muitos membros da família conseguiram o reconhecimento da cidadania espanhola. Talvez eu tenha sido o primeiro neto do clã, com o nome de "JOSÉ ORIVALDO PÉREZ GOMEZ", com a inclusão do sobrenome materno, confome exige a legislação do Estado espanhol. Depois, como filhos naturais, meus queridos João Pedro e Isadora, também obtiveram a certidão de nascimento e o passaporte espanhol em 2011, ou seja, exatos 100 anos depois da chegada de Paco ao Brasil.

Outra coincidência foi a minha idade. Em 1911, quando a família chegou ao Brasil, meu bisavô Francisco Pérez Alcaraz contava com 44 anos. Em 2011, quando obtive a cidadania e o passaporte europeu, também tinha 44 anos.

De qualquer forma, ser cidadão espanhol é uma forma de resgate de nossas origens, o que muito me honra.

Esse é um breve histórico da trajetória da família. Tenho certeza que muitos outros fatos e passagens interessantes aconteceram ao longo desse século que se passou e poderiam ser contados aqui, mas que infelizmente não tenho conhecimento detalhado.

Desse modo, convido aos parentes e amigos que tiverem oportunidade de ler este post, para trazer e comentar outros fatos e informações, a fim de enriquecer nossa história.

Vô Paco e Vó Dolores em 1957.




Família Perez em 1972, nas bodas de ouro de Vô Paco e Vó Dolores.




Peres com seu pai em 1965.




Vó Dolores com Peres no colo em 1965.





Peres com seu pai e seu padrinho de batismo José Antônio di Sanctis.





Vô Paco e Vó Dolores com as noras Valmira, Elisabeth, Ana Maria (mãe de Peres) e Helenice.






Almoço de domingo em 1978 na residência da Rua: Batista Martins, 278 (Peres - pai, Peres, Luciana que está atrás de mim, Francisco e Ana Lúcia).





Time da Associação Atlética Sãomanuelense de 1981 - 3ª Divisão.



Em 1968 pai de Peres tomando posse como vereador.







21 comentários:

  1. Oi Ju,
    adorei ler sobre a nossa história
    Beijos
    Ana Lúcia

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    1. Gostaria de encontrar a família de minha mãe, pois meu avô foi embora
      (José Sanches Perez - espanhol) qdo minha avó estava gravida ( Maria Romana de Nadai) da minha mãe...minha mãe conta que ele foi embora para Osvaldo cruz com a sua outra filha.

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    2. Gostaria de encontrar a família de minha mãe, pois meu avô foi embora
      (José Sanches Perez - espanhol) qdo minha avó estava gravida ( Maria Romana de Nadai) da minha mãe...minha mãe conta que ele foi embora para Osvaldo cruz com a sua outra filha.

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    3. Obrigado por visualizar meu blog
      Creio que a melhor maneira encontrar sua família é fazer um trabalho como de um repórter. Vá atrás de pistas e informações que você os encontrará

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    4. incrivel as historias,sou neta de maxima peres barea e miguel sanches ramires se i que vieram da espanha murcia gostaria de saber mais pois fui criada na presenca do meu avo ele era bem rigido

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  2. Gostei muito da reportagem . Somos parentes então.Sou neto de Bonifácio Pérez Rudulpho. Me procure no facebook para concersarmos. Vagner Francisco Peres Romero

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    1. Caro Vagner
      Obrigado pelo elogio. Que bacana. Somos parentes sim.
      Importante resgatarmos nossa história e nossos valentes e vitoriosos antepassados. Vamos conversar

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  3. Minha avó (familia Sandroni) veio da italia(arezz0) nesse mesmo Navio e chegou neste mesmo dia ( foi para uma Fazenda de café - das Cabras em Campinas)! Partiu do Porto de Genova no dia 06/11/1911.

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    1. Obrigado por visualizar meu blog
      Muita coincidência mesmo
      Foram pessoas "bravas", como dizem os italianos

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  4. Eu sou Peres, meu avô é José Perez. Já falecido. Não sei muito sobre ele. Sei que veio para o Brasil de navio. Na época da guerra na Espanha. É trabalhou em fazendas de café, tb. Casou com Aparecida Rezende e tiveram18 filhos. Sei que tinha uma irmã chamada Francisca Perez. Pena por não saber mais a história dele e saber minhas decedencias.

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    1. Prezada Patrícia. Obrigado por visualizar meu blog. Talvez você possa obter informações no Museu do Imigrante na Mooca em S. Paulo. Voce pode conseguir inclusive cópia de documentos de ingresso no Brasil.
      Procure por pessoas na cidade onde eles viveram. Sempre tem alguém que poderá de dar pistas. Fiz isso é foi muito interessante.

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  5. Estou em busca de informações também sobre minha bisavó BEATRIZ SANCHES PERES... Legal sua reportagem, acredito que ela estava no meio do pessoal do navio rss

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    1. Prezada Tatiane. Obrigado. O objetivo é justamente buscarmos nossas origens e nossa identidade. Acho importante. Para escrever minha história fiz um trabalho de investigação no Museu do Imigrante. Colhi informações com pessoas antigas e com parentes, ainda que distantes (muito interessante isso), obtive documentos com parentes, etc. Foi divertido e prazeroso. Se tiver disposição, faça isso e irá se surpreender.

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    2. Prezada Tatiane. Obrigado. O objetivo é justamente buscarmos nossas origens e nossa identidade. Acho importante. Para escrever minha história fiz um trabalho de investigação no Museu do Imigrante. Colhi informações com pessoas antigas e com parentes, ainda que distantes (muito interessante isso), obtive documentos com parentes, etc. Foi divertido e prazeroso. Se tiver disposição, faça isso e irá se surpreender.

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  6. Caro senhor José Orivaldo Pérez Júnior, apesar de não ter sobrenome espanhol, sou neto de espanhóis da Andaluzia, meu avô que veio da Espanha com 2 anos chamava-se Manuel Pérez, filho de Francisco Pérez ambos de Almería, se estabeleceram em São Manuel. Minha avó filha de espanhóis nasceu em São Manuel. Talvez o senhor possa me tirar uma dúvida :tenho o direito de reivindicar a cidadania espanhola sendo neto de espanhóis pelo lado materno não tendo sobrenome espanhol?

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  7. Caro Sidney. Fico feliz por visualizar meu Blog. Pela legislação espanhola entre 2009 e 2012 a Lei da Memória Histórica possibilitou netos obterem cidadania, independentemente de ter sobrenome. Foi o meu caso. Atualmente, somente de pai para filho desde que o interessado não tenha mais de 21 anos. Porém, voce pode buscar informações no Consulado Espanhol na Rua Canadá em S. Paulo. Tem que agendar pela internet sua visita. Talvez eles possam de ajudar com mais informações. Boa sorte.

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  8. Meu avô também veio para o Brasil por causa da guerra. Nome dele era Manoel Francisco Pérez Bittencourt. Após chegar, seu nome passou para Francisco Peres.

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  9. Como posso saber sobre meu avô que veio de Málaga ainda criança no navio Antonio Perez

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  10. Estou procurando tbm sobre minha família meus bisavós eram primos de primeiro grau veio da província de almeria meu avô é José Peres

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  11. Procuro sobre meus avós, de Almeria João Perez Tamalho e Maria Padilha Carrenho. Meu pai veio de navio para o Brasil, já é falecido, seu nome é João Perez! Queria conhecer meus familiares por parte de pai.

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