Mais do que resgatar a memória da família de minha querida
mãe, o post é uma homenagem à Tia
Anita ou simplesmente “Ani”, que foi como uma segunda mãe para mim.
“Ani”, falecida em 1o de junho de 1999, era Tia
Avó, madrinha de batismo e responsável por boa parte de minha formação
intelectual, moral e religiosa.
Desde criança ouvia atentamente as histórias da família que
agora ouso em relatar neste Blog, para que não se percam no tempo. É uma
responsabilidade e tanto, na medida em que sou o detentor da maioria das
informações sobre fatos e de documentos que distam de mais de 200 anos.
As reminiscências remontam o século 18, mais precisamente a
partir de 1792 quando os primeiros membros da família nasceram no Brasil. Uma
distinta família “quatrocentona˜ de fazendeiros.
Meu tetravô, o primogênito MANOEL JOAQUIM DE OLIVEIRA E
SILVA, Barão de São Simão, também conhecido como Capitão Maneco, e seus irmãos
ISABEL, JOÃO CARLOS, PERPÉTUA, JOSÉ JOAQUIM
e SEBASTIANA, nasceram no Brasil. Ele era casado com MARIA THEODORA DE OLIVEIRA, que
recebia em sua casa importantes famílias de São Paulo (Martinico Prado,
Penteado, Campos Salles, Diniz Junqueira, dentre outros), segundo os relatos
constates da árvore genealógica que foi elaborada pelo “Tio Clovis”, cujo qual
segue digitalizado no final do post.
O “Capitão Maneco”, nascido aos 15.08.1831, em Pirassununga
– SP, era proprietário das Fazendas
Baixão, Três Barras e Dionisia. Foi líder político, Juiz de Paz e Vereador,
conforme consta do Livro da Cidade de Pirassununga.
Entre as décadas de 1870/1880, MANOEL JOAQUIM recebeu em sua
Fazenda Baixão, nosso então Imperador Dom Pedro II e sua comitiva, para uma
pernoite. Por conta dessa honrosa hospedagem, o Imperador lhe ofereceu o título
de BARÃO DE SÃO SIMÃO.
Tia Ani brincava que a família tinha “um pouco de sangue
azul”, mas que na verdade esse título oferecido orgulhava a todos.
Capitão Maneco foi Comandante Superior da Guarda Nacional de
Pirassununga. Viajava frequentemente ao Rio de Janeiro, à cavalo, acompanhado
de grande comitiva de escravos e era recebido na Corte. Fazia compras no Rio de
Janeiro e, na volta, os animais vinham carregados de canastras de couro cheias
de objetos de uso das fazendas, tecidos, rendas, além de trazer presentes para
toda a família.
Em homenagem ao ilustre cidadão, o Município de
Pirassununga, após sua morte, lhe deu o nome de uma rua denominada “Rua Capitão
Maneco”.
PAULA AUGUSTA DE OLIVEIRA E SILVA (29.06.1862 a 04.12.1918),
muito ativa e dada à política, era a quinta filha do Capitão Maneco, e casou-se
com o Tenente Coronel JOAQUIM GOMES DE OLIVEIRA, o vovô Nhonhô, fazendeiro,
proprietário da Fazenda dos Queixadas, vindo a ser os pais do meu Bisavô JOSÉ
TÚLIO GOMES DE OLIVEIRA e, portanto, meus trisavós.
Vovô Túlio, nasceu em Ribeirão Preto aos 10.10.1881 e
faleceu em 26.05.1966. Era fazendeiro em Jaboticabal e em São José do Rio
Preto, engenheiro agrimensor e Capitão da Guarda Nacional em Jaboticabal.
Ele contava uma passagem muito interessante da época da
abolição da escravatura (maio de 1888), em que foi testemunha ocular de uma
cena histórica, quando tinha entre 07 e 08 anos de idade.
Com a edição da Lei Áurea, a maioria dos escravos começaram
a deixar as Fazendas. Certo dia, o então infante vovô Túlio, juntamente com
toda a família, estavam reunidos na sacada da casa sede da Fazenda em
Jaboticabal, acompanhando, atônitos, a evacuação dos escravos libertos. Muitos
deles quando passavam pelo “ex-senhorio”
cuspiam no chão em sinal de protesto e rancor.
Deve ter sido, de fato, uma cena profundamente marcante para
uma criança e ao mesmo tempo fascinante, pois, retrata um dos episódios mais
importantes de nossa história
Mais tarde vovô Túlio foi estudar em São Paulo no
tradicionalíssimo Colégio Rio Branco. Voltou para Jaboticabal somente após se
formar na faculdade como engenheiro agrimensor.
De volta ao interior, o “Dr. Túlio” já estava em tempo de se
casar. Conforme o costume da época, os casamentos eram “arranjados”.
Normalmente realizados entre os filhos de famílias amigas ou conhecidas, e
principalmente, da mesma classe social.
Assim, vovô Nhonhô procurou o amigo fazendeiro DR. FERREIRA,
em Jaboticabal, a fim de acertar o casamento de vovô Túlio com uma de suas
filhas.
Na data marcada, vovô Nhonhô e vovó Paula Augusta,
juntamente com vovô Túlio, ele vestindo um elegante terno com colete, foram até
a Fazenda do Dr. Ferreira (meu outro trisavô) para o encontro que seria seguido
de um banquete.
Quando todos estavam reunidos na “sala de visitas”, uma das
filhas do vovô Ferreira foi apresentada. No entanto, durante a conversa e
tratativas, minha bisavó Anna Ferreira (08.08.1880 a 10.11.1964), colocou a
cabeça entre a cortina que dividia a sala de visitas e a sala de jantar para
satisfazer a curiosidade dos acontecimentos daquela ocasião.
Vovô Túlio, muito atento, percebeu a “bela curiosa” e
imediatamente indagou ao vovô Ferreira: _ Quem é aquela mocinha?
Vovô Ferreira, prontamente respondeu: _ Aquela é Anna, minha
outra filha!
Vovô Túlio pediu que ela adentrasse à sala e assim que foi
apresentada, levantou-se e disse: _ Dr. Ferreira, com todo o respeito, gostaria
de dizer que é com ela que quero me casar!
E assim foi feito. Se casaram e viveram juntos até o fim de
suas vidas. Foi, com certeza, amor à primeira vista.
Com o casamento, vovô Túlio recebeu de seus pais uma grande
fazenda, onde parte dela, se localiza atualmente o Campus da UNESP de
Jaboticabal. Vovó Anna também recebeu uma propriedade rural denominada Sítio
Grama, como “dote”.
Pouco tempo depois, tiveram a primeira filha LEODOMIRA,
também conhecida como D. Lola, ou carinhosamente chamada de Lolô (18.09.1903 a 18.03.1967), professora e
violinista; depois ABEGAHIR, também chamada de “Ail” (20.02.1905 a 10.11.1998);
depois THOMYRIS, famarcêutica, professora e formada em ciências sociais e
letras (27.11.1906 a 27.05.1948), WALMYRA (minha avó materna – 06.03.1908 a
30.04.1994) professora de artes, violinista; e finalmente a caçula ANNA ou Tia
Anita, ou ainda Ani (10.05.1910 a 01o.06.1999), professora e
pianista, que também se dedicava a dar aulas de música.
Outro registro importante, quando ainda residiam em
Jaboticabal, foi a nomeação do vovô Túlio pelo então Presidente dos Estados
Unidos do Brasil, HERMES DA FONSECA, com a patente de Capitão da 2o
Companhia, da 139a Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de
Jaboticabal – SP, por Decreto de 07.07.1911, cujo documento original, em
regular estado de conservação, está em minha posse (segue abaixo digitalizado).
Vovô Túlio e família, após venderem as propriedades em
Jaboticabal, se transferiram para São José do Rio Preto entre as décadas de
1910 e 1920, onde compraram uma imensa
Fazenda denominada Jagóra, em busca de novos desafios.
Se instalaram num casarão bem no centro da cidade, perto da
Igreja Matriz. Era uma das poucas casas com água encanada. Vovô Túlio foi o
primeiro cidadão a ter um carro motorizado marca Ford naquela localidade.
Contava com um motorista japonês, uniformizado, que usava luvas brancas para
dirigir o veículo.
As cinco filhas foram estudar no colégio interno de Freiras
Belgas de Santo André, em Jaboticabal, e lá, diferentemente das escolas de
hoje, aprendiam de tudo; desde a alfabetização em português e francês (língua
mundialmente predominante na época), até costura, bordado, música, etiqueta, etc., etc e etc. Esse
aprendizado seria fundamental no futuro, como veremos adiante.
Alguns anos mais tarde, meu bisavô recebeu uma proposta de um amigo para investir na construção de
uma fábrica de estopa em São Paulo, juntamente com um Alemão (cujo nome
desconheço – aliás, o nome dele sempre foi proibido de ser falado), que detinha
o kow haw do negócio.
A proposta foi aceita e essa decisão iria mudar complemente
o destino de toda a família.
Para tanto, vovô Túlio vendera a Fazenda Jagóra em Rio Preto
e com o dinheiro, com exceção de uma parte para reserva pessoal, integralizou
sua cota na empresa para a construção da fábrica.
A família toda se mudou para São Paulo, se instalando na Rua
Augusta. Ani contava que foram anos maravilhosos.
Vovô Anna e as filhas colocavam as melhores roupas para
passearem pela Rua Direita, Rua XV de Novembro e adjacências, para fazer
compras nas lojas, principalmente tecidos vindos de Paris. Também apreciavam
música aos domingos no coreto da Praça da República e as peças de teatro em cartaz
na cidade.
Ani também lembrava com nostalgia um passa tempo que era
ficar olhando o bonde passar de fronte à residência, cujo movimento já era
intenso na época.
No entanto, chegara o ano de 1924 e vovô Túlio e família
iriam testemunhar o evento mais dramático da história da cidade de São Paulo,
mas que estranhamente, tais fatos históricos são muito pouco conhecidos.
Para se entender melhor o drama e o destino dos anos
seguintes da família GOMES DE OLIVEIRA, farei uma digressão para explicar os
fatos históricos ocorridos na época.
Com o fim do governo Floriano Peixoto, a oligarquia cafeeira
assume o controle do Estado Brasileiro e durante três décadas obteve ganhos
extraordinários forçando o tesouro a adquirir empréstimos no exterior para
comprar os excedentes da produção de café.
Tal situação foi contestada por várias rebeliões, como a de
1922, em Copacabana, no Rio de Janeiro, mas os revolucionários foram facilmente
vencidos.
Entretanto, em março de 1924, houve um levante militar
importante na cidade de São Paulo, liderado por Joaquim Távora, cujo objetivo
era tomar a cidade e após, engrossar fileiras de revoltosos vindos do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para seguir à Capital (Rio de Janeiro)
e tomar o governo legalista federal. A cidade de São Paulo chegou a ser tomada
pelos revolucionários, porém, após um curto período de tranquilidade, os
legalistas, contanto com artilharia pesada, e até aviões, começaram a
bombardear a cidade à esmo, causando grandes baixas civis (503 segundo os legalistas,
mas pode ter sido mais de 2.500), destruição de prédios, residências e de
muitas fábricas. As regiões mais atingidas foram Centro, Campos Eliseos, Mooca
e Aclimação.
Foi uma situação dramática, pois, as maiores vítimas eram
civis. São Paulo contava na época com 700 mil habitantes e por conta desse
levante militar, mais da metade da população deixou a cidade.
São Paulo ficou um caos: muitas fábricas destruídas; havia
saques generalizados, já que segurança pública deixou de existir; greves dos trabalhadores;
falta de mantimentos, dentre outros reflexos típicos de uma guerra civil.
O grande drama da família GOMES DE OLIVEIRA era decidir o
que fazer naquelas circunstâncias: deixar a cidade ou ficar para proteger a
residência e a fábrica? A final de contas vovô Túlio apostou tudo que tinha
nessa fábrica.
A decisão foi de ficar até quando pudessem suportar e foram
momentos de muitas dificuldades, medo e insegurança nesse período caótico.
Todavia, no final de julho de 1924, o revolucionários, vendo
o drama e o sofrimento da população, optaram por uma retirada rápida e
eficiente. Deixaram São Paulo no meio da madrugada, de trem, com todos os
soldados, armas e material bélico, se instalando na cidade de Bauru.
Foi a partir daí, que os revolucionários começaram uma
incursão de mais 25 mil quilômetros, de norte a sul do Brasil, até que em 1930,
a oligarquia foi apeada do poder, com a deposição do Presidente Washington
Luis, e impedindo a posse de Júlio Prestes, que havia vencido as eleições
presidenciais. Com o golpe, o candidato perdedor, Getúlio Vargas, assumiu o
poder, iniciando o Governo Provisório, instalando-se uma ditadura.
Com o fim do levante paulista, a vida da Família GOMES DE
OLIVEIRA voltou ao normal, contudo, em meados de 1926, vovô Túlio foi tomado de
grande surpresa e decepção, pois, o sócio alemão havia dilapidado a empresa,
deixado muitas dívidas, provavelmente valendo-se do delicado momento do levante
militar de 1924.
Vovô Túlio e o outro amigo, também sócio, do dia para a
noite ficaram em total situação de insolvência. Para saldar as dívidas,
venderam a parte física da fábrica.
Depois de resolver as pendências, vovô Túlio, outrora um
grande fazendeiro, agora estava numa difícil situação financeira.
Porém, um grande amigo de vovô Túlio da época de seus
estudos, sugeriu que ele recomeçasse a
vida na então “próspera” São Manuel, que na época tinha praticamente a mesma
população dos dias de hoje.
Havia uma carência de profissional habilitado para realizar
medições das fazendas de café no Município e vovô Túlio, como engenheiro
agrimensor, teria trabalho de sobra.
Foi assim que em 1927, vovô Túlio adquiriu, com suas últimas
reservas, o casarão da Rua Sete de Setembro, n. 442, no Centro, na cidade de
São Manuel-SP, até hoje preservado.
A primeira medição da zona urbana da cidade foi feita por
vovô Túlio, além de muitos serviços realizados para os clientes fazendeiros da
região.
Com a ajuda de todas as filhas, visando reforçar a renda
familiar, começaram a dar aulas particulares de matemática, português,
ciências, aulas de música, e faziam bordados encomendados pelos são-manuelenses distintos da época. E
assim, a família foi se recuperando financeiramente, atingindo uma satisfatória
estabilidade.
Tudo estava muito bem, quando eclodiu a Revolução
Constitucionalista em 09 de julho de 1932, que foi uma resposta ao golpe
militar de 1930, cujo movimento tinha por objetivo a derrubada do Governo
Provisório e a promulgação de uma nova Constituição.
Nestas circunstâncias, vovô Túlio não teve dúvidas em
participar da guerra, tendo em vista suas convicções políticas herdadas de
família.
Lançando mão da patente de Capitão que lhe foi concedida em
1911, vestiu seu uniforme e foi para o front. Antes de deixar a residência,
vovó Anna chegou a suplicar de joelhos para que ele não fosse para a guerra.
Foi em vão...
Vovô Túlio participou
ativamente da Revolução, não só no front do “Centro” (havia o front do Vale do
Paraíba, Sul e Leste, no Estado de São Paulo), mas também no Centro de Comando
na cidade de São Paulo, como vê da foto abaixo, mostrando vovô Túlio fardado
caminhando pela Rua Direita.
No centro do estado de
São Paulo, destacou-se a região de Botucatu,
onde inclusive a Igreja Católica participou ativamente das atividades
revolucionárias, que iam desde a coleta de fundos "Campanha Ouro para o
bem de São Paulo", até o envio de enfermeiras e paramédicos para as
frentes de batalha. O Bispo de Botucatu, Dom Carlos Duarte Costa,
doou parte do tesouro da Diocese de Botucatu,
chegando até a doar sua "Cruz Peitoral" e organizando um
batalhão que ficou conhecido como o "Batalhão do Bispo”.
Apesar da derrota dos paulistas, dois anos mais tarde, uma
nova Constituição Federal foi promulgada pondo fim à “ditadura Vargas”, de modo
que a revolução foi frutífera.
Na verdade, a revolução
constitucionalista marcou o início do processo de democratização. Assim, a
derrota militar se transformou em vitória política.
Vovô Túlio, após os 87 dias de conflito (último conflito
armado no Brasil), felizmente voltou ileso para casa.
A família GOMES DE OLIVEIRA, a partir de então, teve uma
vida tranquila sem sobressaltos.
No período da Segunda Guerra Mundial, Tia Ani, juntamente
com outras senhoritas, chegaram a fazer curso de enfermeira para atender
soldados feridos, mas o conflito terminara logo após a conclusão do
treinamento.
Entre as décadas de 40/50, no casarão da Rua Sete de
Setembro, eram habitualmente realizados saraus. Tia Ani ficava no piano; Tia
Lolô no violino, assim como o ilustre advogado e professor de Direito Romano da
Faculdade da Ite de Bauru, Dr. ALDO CASTALDI,
também no violino, além de outros amigos no vocal. As reuniões eram
muito alegres e havia também muita troca de informações do cotidiano e de
cultura nos intervalos dos eventos.
Na década de 40, os Missionários da Consolata vieram da
Itália para o Brasil e se instalaram na cidade de São Manuel. Tia Ani e Tia
Lolô tiveram intensa participação em prol do excelente seminário existente até
a década de 70. Essa contribuição
consistia na realização de eventos para arrecadação de dinheiro para a
construção e manutenção do seminário, o apadrinhamento de seminaristas até a
ordenação; participação no coral da igreja (Ani cantava e tocava órgão), dentre
outras atividades.
O tempo passou e como soe acontecer, os falecimentos dos
membros da família foram ocorrendo no decorrer dos anos.
Tia Thomyris, asmática, era professora em Araçatuba quando
faleceu numa mesa de cirurgia após lhe ser ministrada anestesia, em 1948.
Das cinco filhas de vovô Túlio, apenas minha avó WALMYRA se
casou. O casamento foi com José Pupo, comerciante, em 1940. Fixaram residência
em Barra Bonita, na Rua Campos Salles, n. 349, no Centro da cidade. Dessa união
nasceram ANA MARIA, minha mãe (professora), JOSÉ ROBERTO (funcionário público
da Secretaria da Fazenda do Estado); PAULO AUGUSTO, já falecido (bacharel em
direito e jornalista), as gêmeas MARIA APARECIDA (professora) e MARIA TERESA
(comerciante) e MARIA CECÍLIA (professora).
Minha mãe, ANA MARIA GOMES PUPO estudou no colégio interno de freiras belgas em Agudos-SP, desde os 08 anos de idade até se formar no magistério em 1960. Casou-se com JOSÉ ORIVALDO PERES, comerciante e político, em 1964, com quem teve quatro filhos: eu, ANA LÚCIA, LUCIANA e FRANCISCO.
Em 1964, no mesmo ano do casamento de meus pais, vovó ANNA faleceu e não chegou a me conhecer, mas
vovô Túlio, conheceu o primeiro bisneto e não se cansava de brincar comigo,
quando eu ainda gatinhava. Ani contava que vovô Túlio se divertia ao me ver
“cavocando” o reboco da parece do living do casarão com o dedo indicador,
fazendo muitos de buracos. Vovô Túlio faleceu em 1966, e no ano seguinte, foi o
falecimento da Tia LEODOMIRA (Lolô).
A família estava reduzida às irmãs Abegahir, Walmiyra e
Anita, e o casarão ficou grande de mais, já que minha avó morava em Barra
Bonita.
Por conta disso, o casarão foi vendido em 1969 para o
ilustre professor de português TONINHO LIMA, que até hoje ali reside.
Para minha sorte e de minha família, Abegahir e Anita foram
morar numa casa vizinha à nossa residência, ou seja, no quarteirão de cima do
Casarão, na Av. Irmãs Cintra 435, que foi posteriormente demolida para a
ampliação de um posto de gasolina.
Foi um período particularmente importante em minha vida,
pela grande influência que tive em seus ensinamentos, em todos os sentidos.
Tenho boas lembranças dos anos convividos, principalmente
quando viajávamos para Itanhaém, a partir de 1972, sempre nos meses de janeiro
e julho. Ani contratava um “chofer de praça” (ela assim se referia aos
motoristas de taxi) que tinha uma Perua Kombi, o sr. Adilson Chinatto, para levar
toda a família, inclusive o pessoal de Barra Bonita, ao litoral. Era uma viajem
longa, mas muito divertida.
Meu pai, na época, trabalhava em São Paulo a semana toda,
pois, tinha como atividade secretariar o Dr. Adhemar de Barros Filho, na época
presidente da Lacta. Papai descia para o litoral apenas nos finais de semana
com seu Ford Galaxie branco.
Nas férias de 1973 tivemos a oportunidade de presenciar
algumas gravações da primeira edição da novela “Mulheres e Areia”, tendo como
artista principal Eva Vilma. As cenas eram gravadas na praia dos pescadores e
foi a primeira vez que vi um artista em carne e osso.
Nesta mesma praia, no alto das pedras, ficava uma cabana de
alvenaria que na novela era a casa do ”Da Lua”. E ao lado dessa edificação ficava um pequeno bar que os artistas usavam
como apoio e como camarim. Certa vez, após as gravações, nos dirigimos até esse
bar para tentar conversar ou obter autógrafo de algum artista. Chegando lá,
para nossa decepção, nenhum artista se encontrava, todavia, um senhor
simpático, usando terno surrado, de chapéu e lenço no pescoço, durante a rápida
conversa com meu pai, sorriu para mim e passou a mão em minha cabeça. Muitos
anos depois, fiquei sabendo que aquela figura era nada mais, nada menos, que
ADONIRAM BARBOSA. Com 08 anos de idade, não tinha como saber o que aquela
figura representava para a cultura brasileira.
Depois de muitos anos de férias na praia, essas viagens
acabaram, pois, Tia Anita e Tia Abegahir, em razão da idade, não tinham mais
disposição física.
Logo após o falecimento do meu avô José Pupo, em 13 de janeiro de 1994, vovó Walmyra falecera três meses depois (30.04.1994). Depois, foi a vez de Abegahir em 1998, aos
93 anos de idade.
Lembro com emoção do falecimento da tia Anita em 1o
de junho de 1999, com quem eu era muito ligado. Naquele dia eu estava no
escritório em Botucatu trabalhando, quando recebi uma ligação com a notícia de
que ela estava passando mal no Pronto Socorro. Imediatamente segui para São
Manuel, adentrando no ambulatório sem qualquer permissão. Deitada na maca,
segurei a mão direita dela e mesmo assim ela me reconheceu, sorriu, pronunciou
o nome (ela me chamava de Juninho) e em seguida morreu diante de meus olhos por
falência do sistema cardíaco, aos 90 anos.
A triste cena foi compensada pela honra e pelo privilégio
que tive de ser a última pessoa em que ela esteve antes de partir. De fato, foi
uma despedida delicada e maternal, restando agora apenas a saudade, os frutos
de seus ensinamentos e o orgulho de pertencer
a essa família.
Em São Manuel, há uma rua no Jardim Brasília com o nome de
Vovô Túlio. Também foi ofertada uma medalha póstuma pela Câmara Municipal em
1971, na condição de combatente da Revolução de 32, em reconhecimento por tudo
o que representou para a cidade. Também há um escola com o nome da Tia Lolô.
Aliás, muito merecido, pois, foi uma das melhores professoras que São Manuel já
teve, segundo relatos de antigos alunos, hoje na faixa etária dos 70 anos de
idade.
A história da família GOMES DE OLIVEIRA não acaba aqui. Pelo
contrário. Ela continua, cabendo a nós descendentes, não só preservar a
memória, mas dar continuidade à trajetória da família, sempre pautando pelos
valores que nos foram deixados como exemplo.
Vovó Anna (Bisavó de Peres).
Tia Anita na década de 20.
Vovô Túlio caminhando pela rua direita em São Paulo.
Família Gomes e parentes de fronte ao casarão em 1938.
Turma do curso de Enfermagem em 1945.
Tia Anita em férias no Rio de Janeiro.
Missionários da Consolata, Seminaristas e as colaboradoras.
Tia Lolô ladeada pelo Comendador José Manoel Pupo e outras personalidades.
Ana Maria em foto de sua formatura.
Tia Anita carregando Peres com cinco meses de idade.
Vovô Túlio com Peres no colo.
Férias de 1973 em Itanhaém-SP com vovó Walmyra, Vovô José, Maria Aparecida, Peres, Ana Lúcia e Luciana.
Casarão da rua Sete de Setembro hoje - 1927 à 1969.
Decreto do Presidente Hermes da Fonseca de nomeação de Vovô Túlio como Capitão em 1911.