sexta-feira, 1 de junho de 2012

LEGISLAÇÃO FISCAL X CARGA TRIBUTÁRIA = VONTADE POLÍTICA



A organização de uma sociedade se faz através do Estado Democrático de Direito. Para que ele seja fortalecido, é necessário que os cidadãos paguem tributos para fazer frente às despesas públicas necessárias à sua manutenção.

Na Constituição do Brasil, dentre os poderes que lhe são concedidos está o “Poder Impositivo de Tributação”, e para evitar arbitrariedades e abusos do fisco a Constituição limitou o poder de exigir tributos, conforme as regras (chamadas de princípios), inseridas nos artigos 150 a 152: princípio da legalidade; da igualdade tributária; da irretroatividade tributária; da anterioridade; do não confisco; que prevê as imunidades: jornais, revistas, templos, partidos políticos.

Portanto, nossa Constituição e nossas leis, são boas e garantistas, sendo desnecessário grandes mudanças estruturais. O que é ruim, é a política dos governos em aumentar cada vez mais a carga tributária e a prática de abusos, como a edição de leis contrarias às regras constitucionais.

O governo tem todas as ferramentas da simplificar a legislação tributária, bem como, para reduzir a carga tributária, hoje em torno de 36%, e que está batendo recordes e mais recordes de arrecadação, segundo é divulgado amplamente na mídia.

Prova disso é que o Governo anunciou no dia 03/04/2012 um pacote de R$ 60,4 bilhões para a produção (conferir “O Estado de São Paulo “de 04.04.2012). Outro exemplo é a postura do governo em sucessivas mudanças nas alíquotas de tributos de IPI para estimular a economia, segundo foi amplamente divulgado na mídia, entre ontem e a data de hoje.

A alta carga tributaria no Brasil não só retira a competitividade das empresas como também é injusta para com os brasileiros menos remunerados.

Em pesquisa feita pelo INSTITUTO BRASILEIRO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO em 2010, cada contribuinte precisa trabalhar 148 dias no ano, ou seja, até o dia 28 de maio de cada ano, apenas para pagar suas obrigações tributárias.

Dentre os contribuintes com renda mensal entre R$ 3 mil a R$ 10 mil, a mordida equivale a 42,95% da renda mensal média, que equivale a 157 dias no ano, enquanto que para as rendas até R$ 3 mil, a carga tributária é de 38,48% ou 142 dias e acima de 10 mil, os impostos levam 41,63% ou 152 dias.

Ainda segundo o estudo, os tributos que incidem sobre patrimônio, renda, e consumo de pessoas físicas, engoliram em 2010, o importe de 40,54% da renda total, sendo a classe média, quem mais consome, a mais afetada pela alta tributação.

No cenário internacional, o Brasil, dentre os emergentes, é o dono da maior carga tributária e tem números próximos a países com altos índices de qualidade de vida como França e Austrália.

A redução da carga tributária, com a consequente ampliação da base tributável; a simplificação da legislação fiscal, mormente  com relação às obrigações acessórias; a flexibilização da ultrapassada legislação trabalhista e um incentivo sério às exportações mediante total desoneração fiscal, proporcionando linhas de crédito para este tipo específico de operação, são fundamentais para resolver a maioria de nossos problemas. Basta “vontade política e atitude séria”, sem a necessidade de grandes reformas.

Na verdade, o caminho é conhecido, mas falta o que dissemos acima: “vontade politica”. 

FILME: UM MÉTODO PERIGOSO


No surgimento da psicanálise, o filme mostra a conturbada e conflituosa relação entre FREUD e seu principal e competente seguidor, o jovem CARL JUNG, que foram dois mais importantes psicólogos de todos os tempos.

FREUD elege Dr. JUNG como seu sucessor no então revolucionário “método da psicanálise”, mas as divergências levam ao rompimento da relação, dado que Dr. JUNG sugere agregar à psicanálise outros elementos como a paranormalidade, o que é prontamente refutado por FREUD.

Outro fator determinante do rompimento, é o fato de que Dr. JUNG, ao começar um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein (Keira Knigthley), uma jovem e bela judia alemã, de orgigem Russa, filha de um grande e rico empresário, se entrega a um romance alucinante e perigoso com a paciente, o que também é condenado por FREUD.

A nostáugica troca de cartas cheia de farpas entre FREUD  e JUNG, sela um rompimento altamente respeitoso e civilizado.

O filme é muito inteligente e os intensos diálogos levam o expectador a fazer reflexões pessoais profundas, principalmente sobre os limites da ética e de algumas regras impostas pela sociedade.

Numa memorável cena, já no final do filme, tendo como paisagem um lago que fica de fronte à sua residência, JUNG tem um reencontro derradeiro com sua ex-paciente e ex-amante SABINA, já com sua vida reconstruida e agora psicóloga, gravida do marido, um médico russo. JUNG, finalizando o diálogo, diz uma frase pertubadora ao revelar sua infelicidade afetiva latente: “às vezes precisamos fazer algo não correto para continuar vivendo…”

Certamente este filme terá indicações para o Oscar do ano que vem, não só pelo traballho fantastico dos três protagonistas, mas também pelo figurino e pela fotografia que são destaques, sem contar as belas paisagens da primavera Suíça.

Em fim, é um filme imperdível.

FILME: “A SEPARAÇÃO”


  “A Separação” é um filme Iraniano de 2011, ganhador do Globo de Ouro, e, recentemente, do Oscar de melhor filme estrangeiro, que conta a estória de uma mulher que pretende se separar do marido e levar sua filha de 12 anos junto com ela para fora do país.

O filme é complexo, apesar de no início mostrar a rotina de uma família normal, dando uma sensação de monotonia.

Contudo a decisão da mulher desencadeia uma série de acontecimentos, gerando conflitos morais, religiosos e judiciais.

O filme consegue retratar de uma só vez a ótica de vários personagens. Dentre eles o da recém contratada empregada grávida, sempre acompanhada de sua filha de 06 anos, que não tem com quem deixar, que esconde do marido o seu trabalho e o drama de ter de cuidar de um velho senil que necessita de cuidados especiais como troca de roupa e banho; o da esposa que quer se separar; sai de casa, mas fica refém da filha que continua na casa com o pai; da filha, na esperança de que os pais voltarem a viver juntos; do marido que gostaria de reconciliar mas não tem coragem de pedir para a esposa voltar para casa; e do marido da empregada que está sem trabalho e prestes a ser preso por estar devendo para vários credores.

Paralelamente a tudo isso, chama a atenção o sistema Judiciário daquele país, onde todos esses personagens vão parar diante de um magistrado, que mais parece um escrivão de policia, que atende as partes litigantes numa pequena sala, sem qualquer formalidade e sem advogados, proferindo decisões sumárias como fixação de finança para pagamento imediato, sob pena de prisão.

O “processo judicial” vai ficando cada vez mais complicado, porque as pessoas sustentam suas versões omitindo ou mentindo sobre alguns fatos que geraram o litígio entre o marido (patrão) e a empregada grávida, justamente por questões religiosas, de um lado, ou para escapar de uma condenação judicial, de outro lado.

Para apurar a verdade, pois, o magistrado percebe a fragilidade dos argumentos de todos os envolvidos, determina a apuração dos fatos por meio do depoimento de testemunhas e por uma inusitada reconstituição dos fatos in loco realizada por policial designado que não consegue chegar a qualquer conclusão.

O final de tudo isso eu não vou contar, mas vamos perceber, ao assistir o filme, que a despeito de toda informalidade do processo judicial retratado, o desenrolar e os resultados são muito semelhantes do que ocorre no nosso sistema judicial que é altamente moroso, burocrático e oneroso.

Não estou defendendo a informalidade do processo judicial, até porque compromete o contraditório e a ampla defesa, mas o Brasil pode fazer muito para simplificar e agilizar nosso sistema para restaurar sua credibilidade, sem prejudicar a “segurança jurídica do cidadão”.  

CHOPIN: O GRANDE COMPOSITOR E SEU ROMANCE PROVIDENCIAL.



Dia desses, estava eu organizando meus CDs, quando me deparei com um antigo CD de Frederic Chopin. Parei tudo, e, em ato contínuo, coloquei-o para ouvir as músicas da coletânea, começando pela faixa 04, de nome  Gran Polonesa Brilhante (a minha preferida).

Suave, delicada e com um toque de romantismo, essa música me fez lembrar um pouco da história do compositor.

Polonês de nascimento, filho de um professor e de uma pianista, Chopin ainda criança já se revelou um grande artista aos 08 anos quando fez seu primeiro concerto público.

Mas o que se destaca em sua biografia, foi união de Chopin com a escritora Aurore Dupin em 1838.

A controvertida escritora se vestia com trajes masculinos e usava o pseudônimo de “George Sand”. Imagine naquela época, ou seja, em pleno século 19, uma mulher, independente, inteligente e culta, se vestir de “homem” , além de adotar um nome masculino!

Chopin se apaixonou por “George Sand” e foi ao lado dela que o grande compositor criou suas melhores músicas.

Como Chopin era muito badalado, sua companheira afastou-o de todos para que pudesse ter tempo de compor. Principalmente em função  tuberculose contraída (naquela época uma doença gravíssima), foram morar na ilha de Maiorca, na Espanha. Quando lá chegaram tiveram muita dificuldade em alugar uma casa, pois, ninguém queria um tuberculoso como inquilino.

Arranjaram, então, um Convento abandonado e ali se instalaram. Quando souberam que o grande compositor estava morando no Convento, foi um alvoroço, até que o dono de uma fábrica de instrumentos musicais deu-lhe de presente um piano de calda, pois, era inadmissível que um artista desta magnitude ficasse sem o “piano”, ao qual dedicou quase toda sua obra.

Maiorca era uma cidade muito úmida, fazendo com que seu estado de saúde piorasse muito. Por conta disso voltaram para a França, mas foi nesse período, na Espanha, o ápice de suas composições.

Portanto, seu romance com “George Sand” foi providencial para a humanidade, muito embora o relacionamento tenha se rompido em 1847.

Chopin morreu em 1849, aos 39 anos e seu “coração” foi retirado do corpo e colocado dentro de um dos pilares da Igreja de Santa Cruz, em Varsóvia, como era seu desejo.

 O legado de Chopin é valioso e ouvir suas músicas não é só prazeroso, mas também um privilégio. 







Clique em PLAY para ouvir a música.

A FAMÍLIA GOMES DE OLIVEIRA – UMA TRAJETÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA DO BRASIL.


Mais do que resgatar a memória da família de minha querida mãe, o post é uma homenagem à Tia Anita ou simplesmente “Ani”, que foi como uma segunda mãe para mim.

“Ani”, falecida em 1o de junho de 1999, era Tia Avó, madrinha de batismo e responsável por boa parte de minha formação intelectual,  moral e religiosa.

Desde criança ouvia atentamente as histórias da família que agora ouso em relatar neste Blog, para que não se percam no tempo. É uma responsabilidade e tanto, na medida em que sou o detentor da maioria das informações sobre fatos e de documentos que distam de mais de 200 anos.

As reminiscências remontam o século 18, mais precisamente a partir de 1792 quando os primeiros membros da família nasceram no Brasil. Uma distinta família “quatrocentona˜ de fazendeiros.

Meu tetravô, o primogênito MANOEL JOAQUIM DE OLIVEIRA E SILVA, Barão de São Simão, também conhecido como Capitão Maneco, e seus irmãos ISABEL, JOÃO CARLOS, PERPÉTUA, JOSÉ JOAQUIM  e SEBASTIANA, nasceram no Brasil. Ele era  casado com MARIA THEODORA DE OLIVEIRA, que recebia em sua casa importantes famílias de São Paulo (Martinico Prado, Penteado, Campos Salles, Diniz Junqueira, dentre outros), segundo os relatos constates da árvore genealógica que foi elaborada pelo “Tio Clovis”, cujo qual segue digitalizado no final do post.

O “Capitão Maneco”, nascido aos 15.08.1831, em Pirassununga – SP,  era proprietário das Fazendas Baixão, Três Barras e Dionisia. Foi líder político, Juiz de Paz e Vereador, conforme consta do Livro da Cidade de Pirassununga.

Entre as décadas de 1870/1880, MANOEL JOAQUIM recebeu em sua Fazenda Baixão, nosso então Imperador Dom Pedro II e sua comitiva, para uma pernoite. Por conta dessa honrosa hospedagem, o Imperador lhe ofereceu o título de BARÃO DE SÃO SIMÃO.

Tia Ani brincava que a família tinha “um pouco de sangue azul”, mas que na verdade esse título oferecido orgulhava a todos.

Capitão Maneco foi Comandante Superior da Guarda Nacional de Pirassununga. Viajava frequentemente ao Rio de Janeiro, à cavalo, acompanhado de grande comitiva de escravos e era recebido na Corte. Fazia compras no Rio de Janeiro e, na volta, os animais vinham carregados de canastras de couro cheias de objetos de uso das fazendas, tecidos, rendas, além de trazer presentes para toda a família.

Em homenagem ao ilustre cidadão, o Município de Pirassununga, após sua morte, lhe deu o nome de uma rua denominada “Rua Capitão Maneco”.

PAULA AUGUSTA DE OLIVEIRA E SILVA (29.06.1862 a 04.12.1918), muito ativa e dada à política, era a quinta filha do Capitão Maneco, e casou-se com o Tenente Coronel JOAQUIM GOMES DE OLIVEIRA, o vovô Nhonhô, fazendeiro, proprietário da Fazenda dos Queixadas, vindo a ser os pais do meu Bisavô JOSÉ TÚLIO GOMES DE OLIVEIRA e, portanto, meus trisavós.

Vovô Túlio, nasceu em Ribeirão Preto aos 10.10.1881 e faleceu em 26.05.1966. Era fazendeiro em Jaboticabal e em São José do Rio Preto, engenheiro agrimensor e Capitão da Guarda Nacional em Jaboticabal.

Ele contava uma passagem muito interessante da época da abolição da escravatura (maio de 1888), em que foi testemunha ocular de uma cena histórica, quando tinha entre 07 e 08 anos de idade.

Com a edição da Lei Áurea, a maioria dos escravos começaram a deixar as Fazendas. Certo dia, o então infante vovô Túlio, juntamente com toda a família, estavam reunidos na sacada da casa sede da Fazenda em Jaboticabal, acompanhando, atônitos, a evacuação dos escravos libertos. Muitos deles quando passavam pelo  “ex-senhorio” cuspiam no chão em sinal de protesto e rancor.

Deve ter sido, de fato, uma cena profundamente marcante para uma criança e ao mesmo tempo fascinante, pois, retrata um dos episódios mais importantes de nossa história

Mais tarde vovô Túlio foi estudar em São Paulo no tradicionalíssimo Colégio Rio Branco. Voltou para Jaboticabal somente após se formar na faculdade como engenheiro agrimensor.

De volta ao interior, o “Dr. Túlio” já estava em tempo de se casar. Conforme o costume da época, os casamentos eram “arranjados”. Normalmente realizados entre os filhos de famílias amigas ou conhecidas, e principalmente, da mesma classe social.

Assim, vovô Nhonhô procurou o amigo fazendeiro DR. FERREIRA, em Jaboticabal, a fim de acertar o casamento de vovô Túlio com uma de suas filhas.

Na data marcada, vovô Nhonhô e vovó Paula Augusta, juntamente com vovô Túlio, ele vestindo um elegante terno com colete, foram até a Fazenda do Dr. Ferreira (meu outro trisavô) para o encontro que seria seguido de um banquete.

Quando todos estavam reunidos na “sala de visitas”, uma das filhas do vovô Ferreira foi apresentada. No entanto, durante a conversa e tratativas, minha bisavó Anna Ferreira (08.08.1880 a 10.11.1964), colocou a cabeça entre a cortina que dividia a sala de visitas e a sala de jantar para satisfazer a curiosidade dos acontecimentos daquela ocasião.

Vovô Túlio, muito atento, percebeu a “bela curiosa” e imediatamente indagou ao vovô Ferreira: _ Quem é aquela mocinha?

Vovô Ferreira, prontamente respondeu: _ Aquela é Anna, minha outra filha!

Vovô Túlio pediu que ela adentrasse à sala e assim que foi apresentada, levantou-se e disse: _ Dr. Ferreira, com todo o respeito, gostaria de dizer que é com ela que quero me casar!

E assim foi feito. Se casaram e viveram juntos até o fim de suas vidas. Foi, com certeza, amor à primeira vista.

Com o casamento, vovô Túlio recebeu de seus pais uma grande fazenda, onde parte dela, se localiza atualmente o Campus da UNESP de Jaboticabal. Vovó Anna também recebeu uma propriedade rural denominada Sítio Grama, como “dote”.

Pouco tempo depois, tiveram a primeira filha LEODOMIRA, também conhecida como D. Lola, ou carinhosamente chamada de Lolô (18.09.1903 a 18.03.1967), professora e violinista; depois ABEGAHIR, também chamada de “Ail” (20.02.1905 a 10.11.1998); depois THOMYRIS, famarcêutica, professora e formada em ciências sociais e letras (27.11.1906 a 27.05.1948), WALMYRA (minha avó materna – 06.03.1908 a 30.04.1994) professora de artes, violinista; e finalmente a caçula ANNA ou Tia Anita, ou ainda Ani (10.05.1910 a 01o.06.1999), professora e pianista, que também se dedicava a dar aulas de música.

Outro registro importante, quando ainda residiam em Jaboticabal, foi a nomeação do vovô Túlio pelo então Presidente dos Estados Unidos do Brasil, HERMES DA FONSECA, com a patente de Capitão da 2o Companhia, da 139a Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de Jaboticabal – SP, por Decreto de 07.07.1911, cujo documento original, em regular estado de conservação, está em minha posse (segue abaixo digitalizado).

Vovô Túlio e família, após venderem as propriedades em Jaboticabal, se transferiram para São José do Rio Preto entre as décadas de 1910 e 1920, onde compraram uma imensa  Fazenda denominada Jagóra, em busca de novos desafios.

Se instalaram num casarão bem no centro da cidade, perto da Igreja Matriz. Era uma das poucas casas com água encanada. Vovô Túlio foi o primeiro cidadão a ter um carro motorizado marca Ford naquela localidade. Contava com um motorista japonês, uniformizado, que usava luvas brancas para dirigir o veículo.

As cinco filhas foram estudar no colégio interno de Freiras Belgas de Santo André, em Jaboticabal, e lá, diferentemente das escolas de hoje, aprendiam de tudo; desde a alfabetização em português e francês (língua mundialmente predominante na época), até costura, bordado,  música, etiqueta, etc., etc e etc. Esse aprendizado seria fundamental no futuro, como veremos adiante.

Alguns anos mais tarde, meu bisavô recebeu uma proposta  de um amigo para investir na construção de uma fábrica de estopa em São Paulo, juntamente com um Alemão (cujo nome desconheço – aliás, o nome dele sempre foi proibido de ser falado), que detinha o kow haw do negócio.

A proposta foi aceita e essa decisão iria mudar complemente o destino de toda a família.

Para tanto, vovô Túlio vendera a Fazenda Jagóra em Rio Preto e com o dinheiro, com exceção de uma parte para reserva pessoal, integralizou sua cota na empresa para a construção da fábrica.

A família toda se mudou para São Paulo, se instalando na Rua Augusta. Ani contava que foram anos maravilhosos.

Vovô Anna e as filhas colocavam as melhores roupas para passearem pela Rua Direita, Rua XV de Novembro e adjacências, para fazer compras nas lojas, principalmente tecidos vindos de Paris. Também apreciavam música aos domingos no coreto da Praça da República e as peças de teatro em cartaz na cidade.

Ani também lembrava com nostalgia um passa tempo que era ficar olhando o bonde passar de fronte à residência, cujo movimento já era intenso na época.

No entanto, chegara o ano de 1924 e vovô Túlio e família iriam testemunhar o evento mais dramático da história da cidade de São Paulo, mas que estranhamente, tais fatos históricos são muito pouco conhecidos.

Para se entender melhor o drama e o destino dos anos seguintes da família GOMES DE OLIVEIRA, farei uma digressão para explicar os fatos históricos ocorridos na época.

Com o fim do governo Floriano Peixoto, a oligarquia cafeeira assume o controle do Estado Brasileiro e durante três décadas obteve ganhos extraordinários forçando o tesouro a adquirir empréstimos no exterior para comprar os excedentes da produção de café.

Tal situação foi contestada por várias rebeliões, como a de 1922, em Copacabana, no Rio de Janeiro, mas os revolucionários foram facilmente vencidos.

Entretanto, em março de 1924, houve um levante militar importante na cidade de São Paulo, liderado por Joaquim Távora, cujo objetivo era tomar a cidade e após, engrossar fileiras de revoltosos vindos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para seguir à Capital (Rio de Janeiro) e tomar o governo legalista federal. A cidade de São Paulo chegou a ser tomada pelos revolucionários, porém, após um curto período de tranquilidade, os legalistas, contanto com artilharia pesada, e até aviões, começaram a bombardear a cidade à esmo, causando grandes baixas civis (503 segundo os legalistas, mas pode ter sido mais de 2.500), destruição de prédios, residências e de muitas fábricas. As regiões mais atingidas foram Centro, Campos Eliseos, Mooca e Aclimação.

Foi uma situação dramática, pois, as maiores vítimas eram civis. São Paulo contava na época com 700 mil habitantes e por conta desse levante militar, mais da metade da população deixou a cidade.

São Paulo ficou um caos: muitas fábricas destruídas; havia saques generalizados, já que segurança pública deixou de existir; greves dos trabalhadores; falta de mantimentos, dentre outros reflexos típicos de uma guerra civil.

O grande drama da família GOMES DE OLIVEIRA era decidir o que fazer naquelas circunstâncias: deixar a cidade ou ficar para proteger a residência e a fábrica? A final de contas vovô Túlio apostou tudo que tinha nessa fábrica.  

A decisão foi de ficar até quando pudessem suportar e foram momentos de muitas dificuldades, medo e insegurança nesse período caótico.

Todavia, no final de julho de 1924, o revolucionários, vendo o drama e o sofrimento da população, optaram por uma retirada rápida e eficiente. Deixaram São Paulo no meio da madrugada, de trem, com todos os soldados, armas e material bélico, se instalando na cidade de Bauru.

Foi a partir daí, que os revolucionários começaram uma incursão de mais 25 mil quilômetros, de norte a sul do Brasil, até que em 1930, a oligarquia foi apeada do poder, com a deposição do Presidente Washington Luis, e impedindo a posse de Júlio Prestes, que havia vencido as eleições presidenciais. Com o golpe, o candidato perdedor, Getúlio Vargas, assumiu o poder, iniciando o Governo Provisório, instalando-se uma ditadura.

Com o fim do levante paulista, a vida da Família GOMES DE OLIVEIRA voltou ao normal, contudo, em meados de 1926, vovô Túlio foi tomado de grande surpresa e decepção, pois, o sócio alemão havia dilapidado a empresa, deixado muitas dívidas, provavelmente valendo-se do delicado momento do levante militar de 1924.

Vovô Túlio e o outro amigo, também sócio, do dia para a noite ficaram em total situação de insolvência. Para saldar as dívidas, venderam a parte física da fábrica.

Depois de resolver as pendências, vovô Túlio, outrora um grande fazendeiro, agora estava numa difícil situação financeira.

Porém, um grande amigo de vovô Túlio da época de seus estudos,  sugeriu que ele recomeçasse a vida na então “próspera” São Manuel, que na época tinha praticamente a mesma população dos dias de hoje.

Havia uma carência de profissional habilitado para realizar medições das fazendas de café no Município e vovô Túlio, como engenheiro agrimensor, teria trabalho de sobra.

Foi assim que em 1927, vovô Túlio adquiriu, com suas últimas reservas, o casarão da Rua Sete de Setembro, n. 442, no Centro, na cidade de São Manuel-SP, até hoje preservado.

A primeira medição da zona urbana da cidade foi feita por vovô Túlio, além de muitos serviços realizados para os clientes fazendeiros da região.

Com a ajuda de todas as filhas, visando reforçar a renda familiar, começaram a dar aulas particulares de matemática, português, ciências, aulas de música, e faziam bordados encomendados  pelos são-manuelenses distintos da época. E assim, a família foi se recuperando financeiramente, atingindo uma satisfatória estabilidade.

Tudo estava muito bem, quando eclodiu a Revolução Constitucionalista em 09 de julho de 1932, que foi uma resposta ao golpe militar de 1930, cujo movimento tinha por objetivo a derrubada do Governo Provisório e a promulgação de uma nova Constituição.

Nestas circunstâncias, vovô Túlio não teve dúvidas em participar da guerra, tendo em vista suas convicções políticas herdadas de família.

Lançando mão da patente de Capitão que lhe foi concedida em 1911, vestiu seu uniforme e foi para o front. Antes de deixar a residência, vovó Anna chegou a suplicar de joelhos para que ele não fosse para a guerra. Foi em vão...

Vovô Túlio participou ativamente da Revolução, não só no front do “Centro” (havia o front do Vale do Paraíba, Sul e Leste, no Estado de São Paulo), mas também no Centro de Comando na cidade de São Paulo, como vê da foto abaixo, mostrando vovô Túlio fardado caminhando pela Rua Direita.

No centro do estado de São Paulo, destacou-se a região de Botucatu, onde inclusive a Igreja Católica participou ativamente das atividades revolucionárias, que iam desde a coleta de fundos "Campanha Ouro para o bem de São Paulo", até o envio de enfermeiras e paramédicos para as frentes de batalha. O Bispo de Botucatu, Dom Carlos Duarte Costa, doou parte do tesouro da Diocese de Botucatu, chegando até a doar sua "Cruz Peitoral" e organizando um batalhão que ficou conhecido como o "Batalhão do Bispo”.

Apesar da derrota dos paulistas, dois anos mais tarde, uma nova Constituição Federal foi promulgada pondo fim à “ditadura Vargas”, de modo que a revolução foi frutífera.

Na verdade, a revolução constitucionalista marcou o início do processo de democratização. Assim, a derrota militar se transformou em vitória política.

Vovô Túlio, após os 87 dias de conflito (último conflito armado no Brasil), felizmente voltou ileso para casa.

A família GOMES DE OLIVEIRA, a partir de então, teve uma vida tranquila sem sobressaltos.

No período da Segunda Guerra Mundial, Tia Ani, juntamente com outras senhoritas, chegaram a fazer curso de enfermeira para atender soldados feridos, mas o conflito terminara logo após a conclusão do treinamento.

Entre as décadas de 40/50, no casarão da Rua Sete de Setembro, eram habitualmente realizados saraus. Tia Ani ficava no piano; Tia Lolô no violino, assim como o ilustre advogado e professor de Direito Romano da Faculdade da Ite de Bauru, Dr. ALDO CASTALDI,  também no violino, além de outros amigos no vocal. As reuniões eram muito alegres e havia também muita troca de informações do cotidiano e de cultura nos intervalos dos eventos.

Na década de 40, os Missionários da Consolata vieram da Itália para o Brasil e se instalaram na cidade de São Manuel. Tia Ani e Tia Lolô tiveram intensa participação em prol do excelente seminário existente até a década de 70.  Essa contribuição consistia na realização de eventos para arrecadação de dinheiro para a construção e manutenção do seminário, o apadrinhamento de seminaristas até a ordenação; participação no coral da igreja (Ani cantava e tocava órgão), dentre outras atividades.

O tempo passou e como soe acontecer, os falecimentos dos membros da família foram ocorrendo no decorrer dos anos.

Tia Thomyris, asmática, era professora em Araçatuba quando faleceu numa mesa de cirurgia após lhe ser ministrada anestesia, em 1948.

Das cinco filhas de vovô Túlio, apenas minha avó WALMYRA se casou. O casamento foi com José Pupo, comerciante, em 1940. Fixaram residência em Barra Bonita, na Rua Campos Salles, n. 349, no Centro da cidade. Dessa união nasceram ANA MARIA, minha mãe (professora), JOSÉ ROBERTO (funcionário público da Secretaria da Fazenda do Estado); PAULO AUGUSTO, já falecido (bacharel em direito e jornalista), as gêmeas MARIA APARECIDA (professora) e MARIA TERESA (comerciante) e MARIA CECÍLIA (professora).

Minha mãe, ANA MARIA GOMES PUPO estudou no colégio interno de freiras belgas em Agudos-SP, desde os 08 anos de idade até se formar no magistério em 1960. Casou-se com JOSÉ ORIVALDO PERES, comerciante e político, em 1964, com quem teve quatro filhos: eu, ANA LÚCIA, LUCIANA e FRANCISCO.


Em 1964, no mesmo ano do casamento de meus pais, vovó ANNA faleceu e não chegou a me conhecer, mas vovô Túlio, conheceu o primeiro bisneto e não se cansava de brincar comigo, quando eu ainda gatinhava. Ani contava que vovô Túlio se divertia ao me ver “cavocando” o reboco da parece do living do casarão com o dedo indicador, fazendo muitos de buracos. Vovô Túlio faleceu em 1966, e no ano seguinte, foi o falecimento da Tia LEODOMIRA (Lolô).

A família estava reduzida às irmãs Abegahir, Walmiyra e Anita, e o casarão ficou grande de mais, já que minha avó morava em Barra Bonita.

Por conta disso, o casarão foi vendido em 1969 para o ilustre professor de português TONINHO LIMA, que até hoje ali reside.

Para minha sorte e de minha família, Abegahir e Anita foram morar numa casa vizinha à nossa residência, ou seja, no quarteirão de cima do Casarão, na Av. Irmãs Cintra 435, que foi posteriormente demolida para a ampliação de um posto de gasolina.

Foi um período particularmente importante em minha vida, pela grande influência que tive em seus ensinamentos, em todos os sentidos.

Tenho boas lembranças dos anos convividos, principalmente quando viajávamos para Itanhaém, a partir de 1972, sempre nos meses de janeiro e julho. Ani contratava um “chofer de praça” (ela assim se referia aos motoristas de taxi) que tinha uma Perua Kombi, o sr. Adilson Chinatto, para levar toda a família, inclusive o pessoal de Barra Bonita, ao litoral. Era uma viajem longa, mas muito divertida.

Meu pai, na época, trabalhava em São Paulo a semana toda, pois, tinha como atividade secretariar o Dr. Adhemar de Barros Filho, na época presidente da Lacta. Papai descia para o litoral apenas nos finais de semana com seu Ford Galaxie branco.

Nas férias de 1973 tivemos a oportunidade de presenciar algumas gravações da primeira edição da novela “Mulheres e Areia”, tendo como artista principal Eva Vilma. As cenas eram gravadas na praia dos pescadores e foi a primeira vez que vi um artista em carne e osso.

Nesta mesma praia, no alto das pedras, ficava uma cabana de alvenaria que na novela era a casa do ”Da Lua”. E ao lado dessa edificação  ficava um pequeno bar que os artistas usavam como apoio e como camarim. Certa vez, após as gravações, nos dirigimos até esse bar para tentar conversar ou obter autógrafo de algum artista. Chegando lá, para nossa decepção, nenhum artista se encontrava, todavia, um senhor simpático, usando terno surrado, de chapéu e lenço no pescoço, durante a rápida conversa com meu pai, sorriu para mim e passou a mão em minha cabeça. Muitos anos depois, fiquei sabendo que aquela figura era nada mais, nada menos, que ADONIRAM BARBOSA. Com 08 anos de idade, não tinha como saber o que aquela figura representava para a cultura brasileira.

Depois de muitos anos de férias na praia, essas viagens acabaram, pois, Tia Anita e Tia Abegahir, em razão da idade, não tinham mais disposição física.

Logo após o falecimento do meu avô José Pupo, em 13 de janeiro de 1994, vovó Walmyra falecera três meses depois (30.04.1994). Depois, foi a vez de Abegahir em 1998, aos 93 anos de idade.

Lembro com emoção do falecimento da tia Anita em 1o de junho de 1999, com quem eu era muito ligado. Naquele dia eu estava no escritório em Botucatu trabalhando, quando recebi uma ligação com a notícia de que ela estava passando mal no Pronto Socorro. Imediatamente segui para São Manuel, adentrando no ambulatório sem qualquer permissão. Deitada na maca, segurei a mão direita dela e mesmo assim ela me reconheceu, sorriu, pronunciou o nome (ela me chamava de Juninho) e em seguida morreu diante de meus olhos por falência do sistema cardíaco, aos 90 anos.

A triste cena foi compensada pela honra e pelo privilégio que tive de ser a última pessoa em que ela esteve antes de partir. De fato, foi uma despedida delicada e maternal, restando agora apenas a saudade, os frutos de seus ensinamentos e o orgulho de pertencer  a essa família.

Em São Manuel, há uma rua no Jardim Brasília com o nome de Vovô Túlio. Também foi ofertada uma medalha póstuma pela Câmara Municipal em 1971, na condição de combatente da Revolução de 32, em reconhecimento por tudo o que representou para a cidade. Também há um escola com o nome da Tia Lolô. Aliás, muito merecido, pois, foi uma das melhores professoras que São Manuel já teve, segundo relatos de antigos alunos, hoje na faixa etária dos 70 anos de idade.

A história da família GOMES DE OLIVEIRA não acaba aqui. Pelo contrário. Ela continua, cabendo a nós descendentes, não só preservar a memória, mas dar continuidade à trajetória da família, sempre pautando pelos valores que nos foram deixados como exemplo.


 Família Gomes em sua residência 


Vovó Anna (Bisavó de Peres).


Tia Anita na década de 20.


Vovô Túlio caminhando pela rua direita em São Paulo.



Família Gomes e parentes de fronte ao casarão em 1938.



Turma do curso de Enfermagem em 1945.


Tia Anita em férias no Rio de Janeiro.


Missionários da Consolata, Seminaristas e as colaboradoras.


Tia Lolô ladeada pelo Comendador José Manoel Pupo e outras personalidades.


Ana Maria em foto de sua formatura.



Tia Anita carregando Peres com cinco meses de idade.


Vovô Túlio com Peres no colo.


Férias de 1973 em Itanhaém-SP com vovó Walmyra, Vovô José, Maria Aparecida, Peres, Ana Lúcia e Luciana. 


Casarão da rua Sete de Setembro hoje - 1927 à 1969.





Decreto do Presidente Hermes da Fonseca de nomeação de Vovô Túlio como Capitão em 1911.



Homenagem póstuma oferecida pela Câmara Municipal de São Manuel - SP em 1971. 






















Árvore Genealógica da Família.