quinta-feira, 27 de junho de 2013

CRÔNICA – UMA INCRÍVEL EXPERIÊNCIA NA CIDADE MARAVILHOSA

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Finalmente o Brasil acordou para as mazelas de nossos governantes e representantes do povo. A incompetência administrativa, a má gestão do dinheiro público, a corrupção, os atos de imoralidade administrativa (calote público de suas dívidas, nepotismo, descaso com as prioridades do povo, abusos e arbitrariedades fiscais, tratamento diferenciado aos “amigos e companheiros”, falta de transparência administrativa), impunidade, dentre muitos outros, que me abstenho de continuar a relacionar para que o texto não fique cansativo.

Penso que o estigma de povo “cordeiro”, tolerante, que se passa por otário, acabou.

Nós brasileiros temos que ter a clareza que o Estado existe para servir o povo e não o contrário. Os governantes, da mesma forma, tem o dever de ter essa consciência, ou seja, da sua obrigação moral e constitucional de servir e não a cultura que hoje predomina que é “tirar proveito do poder”.

Essas manifestações que hoje vemos já está entrando para a história, não só pelo rompimento do silêncio, mas pela amplitude das reivindicações. Bem diferente das manifestações pontuais das “Diretas Já” e dos “Cara Pintadas”.

As manifestações, apesar dos incômodos na rotina dos cidadãos, principalmente nas grandes cidades, é necessária e plenamente legítima. Acho ainda que essas manifestações não devem parar até que o governo se manifeste de forma transparente, com vontade política para tomar atitudes para mudar o que deve ser mudado (mutatis mutantis), a fim de atender as reivindicações do povo brasileiro.

Governar não é dar murro na mesa e ficar bravo. É ter atitude.

Não podemos mais transigir com as “mazelas” citadas anteriormente. Pagamos tributos de nível de países de primeiro mundo (40% do PIB - semelhantes a países como a França e Austrália), mas os serviços públicos são de terceiro mundo e pior, quem pode, paga tudo de novo (escola particular, segurança particular, plano de saúde, previdência privada e assim vai).

Antes de imaginar que essa “explosão de cidadania“ fosse eclodir, resolvi fazer uma viagem diferente com meus filhos João Pedro (09) e Isadora (06) à cidade do Rio de Janeiro.

Pela primeira vez como um mero turista, resolvemos aproveitar a Copa das Confederações para assistir ao jogo da Espanha e Taiti ocorrido na quinta-feira, dia 20 de junho de 2.013, e, para visitar os principais pontos da Cidade Maravilhosa, no restante do final de semana.

Realmente valeu a pena. A cidade é linda e é perceptível que está ficando cada vez mais arrumada, sem contar que muitas obras estão em andamento.

Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Jardim Botânico, Forte de Copacabana, Confeitaria Colombo, museus e como não poderia deixar de ser, pegamos uma praia, mesmo nessa época do ano. Foram esses nossos principais passeios. Enfim, muita beleza e história do Brasil.

Mas o que eu gostaria de destacar nessa crônica foi o primeiro dia do passeio, que tem tudo a ver com esse momento histórico que estamos vivendo.

Foi uma experiência única para mim. Imagine então para meus “pequeninos”...

Como eu já disse antes, o jogo da Espanha contra o Taiti foi no dia 20.06.13, quinta-feira, às 16 horas. Assim, para não atrapalhar a escola e o meu trabalho, optei por chegar ao Rio no mesmo dia, pela manhã.

Hoje, analisando friamente, em se tratando de Brasil, acho que arrisquei demais, sem contar que naquela quinta-feira (20), foi o dia das grandes manifestações em todo o Brasil. Para arrematar, o ponto de encontro no Rio foi na Candelária, há 100 metros no nosso hotel.

De fato, ocorreu que nosso voo foi cancelado e ao invés de chegarmos antes das 11 horas, pousamos no Aeroporto Santos Dumont às 14h45min, ou seja, 1 hora e 15 minutos antes do jogo.

Eu e as crianças fomos correndo pegar a mala na esteira do aeroporto; tomamos um taxi para o Hotel; fizemos check-in;, retiramos o ingresso do jogo que foi comprado pela internet (sorte que nosso hotel era um dos pontos de entrega de ingressos); nos trocamos (claro que colocamos a camisa da seleção da Espanha, em razão de nossa dupla cidadania); e em seguida, entramos no metrô lotado e mal sinalizado. Para piorar, pegamos a linha vermelha do metrô e descemos na estação Afonso Pena que fica cerca de 02 quilômetros de distância do Maracanã.

Com passos largos, Joao Pedro e eu, com a Isadora nos ombros (um verdadeiro teste de resistência) fomos à pé  e finalmente chegamos ao “Macara”. A antes de entrar no estádio e subir até o nível 05, fomos entrevistados por uma emissora de televisão. Respondendo à pergunta da repórter, Isadora arriscou o placar de 12 a 0. Joao Pedro indicou o placar de 8 a 0.

Enfim, sentamos em nossas cadeiras com 07 minutos de primeiro tempo de jogo e já estava 1 a 0 para a Espanha.

Foi uma festa. O Maracanã totalmente reformado, lindo e lotado (quase 72 mil pessoas), e a “Fúria” ganhou por 10 a 0. Foram tantos gols que ficamos roucos.

Outro destaque foi que no meio do jogo, o Maracanã inteiro cantou o hino brasileiro; além das palavras de ordem, como: “povo unido jamais será vencido” e ainda cantou: ”sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Foi de arrepiar. Nesse momento percebi que o povo está em sintonia e com o mesmo sentimento de exigir mudanças, o que é muito animador.

Com o final de jogo, fomos até a residência de nossos amigos Adriana e Fernando fazer um lanche. O aparamento deles fica há 50 metros do estádio (é só atravessar a rua) e pela sacada vemos o Maracanã inteiro aceso e também o Cristo Redentor lá no alto, iluminado.

De lá, ao acompanharmos a cobertura dos protestos pela TV, começamos a ter a verdadeira noção do tamanho da manifestação e dos problemas que estavam ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro. Para os organizadores da manifestação havia 600 mil pessoas. Para a polícia militar, 300 mil. Seja qual for o número, é muita gente.

Minha preocupação, naquela altura, era como chegar ao hotel, que estava no “olho do furacão”.

Por volta de 21 horas, as reportagens davam conta que a região da Candelária já estava vazia e a manifestação tinha se dirigido à Prefeitura. Para garantir, telefonei  para o hotel e me informaram que realmente já era possível passar veículos.

Diante disso e com o cansaço nos castigando, resolvi arriscar e pegamos um taxi para voltar ao hotel.

Assim que saímos na calçada, um taxi parou. Quando disse para onde queríamos ir, ele se recusou a fazer a corrida. Depois de muita insistência o motorista cedeu.

O taxi fez uma volta bem grande para evitar a região da Prefeitura e da Central do Brasil. O caminho ia bem, quando no final da Perimetral, perto do centro, o trânsito parou. Havia naquela região uma repressão da polícia contra manifestantes que podíamos ver de longe. Mesmo com a distância, a brisa trouxe um pouco do gás lacrimogênio e nosso olhos e narinas começaram a arder. No sentido oposto da pista podemos observar que um ônibus com alguns vidros quebrados estava cheio de passageiros cobrindo o nariz com lenços e panos.

Em seguida o trânsito foi liberado e não sabíamos o que íamos encontrar. O esperto e atento taxista fez um caminho alternativo pelo centro velho e durante esse trajeto pudemos testemunhar um rastro de destruição.

Lixo espalhado por todo lado. Muitas fogueiras pelas ruas, provavelmente formadas pelo lixo; postes de radares derrubados (o carioca chama de pardal); orelhões arrancados e jogados no meio das avenidas e até uma enorme caçamba foi arrastadas para o meio da Avenida Presidente Vargas. E, quase todos os vidros de lojas e de bancos quebrados.

Realmente um cenário de guerra que nunca vi em minha vida. Essa paisagem era tão chocante que até a Isadora fez comentários de indignação.

O mais estranho de tudo, é que o nosso taxi era o único veículo que estava perambulando na região do centro. Não havia um só ônibus, taxi ou veículo de passeio circulando naquela região do centro velho (que em situações normais o tráfego de carros e de pessoas é muito grande), mas apenas manifestantes vagando pelas ruas escuras e sujas que mais pareciam “zumbis”.

Todo esse cenário nos fez sentir como se estivéssemos dentro de um filme de ficção científica, como se eu, Joao Pedro, Isadora e o taxista, fosssemos os únicos seres humanos vivos da cidade. Foi algo parecido com o Filme “Ensaio Sobre a Cegueira“ (2008), dirigido por Fernando Meireles.

Finalmente chegamos ao hotel que estava com tapumes em sua fachada para proteger de vandalismos.

O gerente do hotel veio rapidamente ao nosso encontro na calçada e pensando que éramos “gringos”, foi nos recepcionar e pedir desculpas em espanhol, justificando que essas manifestações não eram comuns no Rio.

Ao entramos no hall de entrada, outra cena chocante. Os funcionários do hotel estavam todos meio que assustados e com lenços no nariz por causa do gás lacrimogênio jogado na rua pela polícia. Como estava tudo fechado, o ar não circulava e o gás  que penetrou castigava as pessoas.

Por conta disso nos dirigimos rapidamente ao elevador e subimos ao apartamento. Somente nesse momento comecei a ficar tranquilo e agradecer a Deus pela proteção e por ter dado tudo certo.

Foi uma verdadeira aventura, mas nada disso tirou o brilho do primeiro dia de nossa viagem.

Realmente, valeu a pena, não só pelo passeio e por ver tanta beleza que a Cidade Maravilhosa proporciona, mas também, porque fomos testemunhas oculares de uma parte da história que o Brasil está vivendo.

Uma experiência incrível, para ficar registrada em nossas memórias!

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