terça-feira, 24 de setembro de 2013

FILMES – ÓTICAS DO CRIME ATRAVÉS DO CINEMA

 
Três recentes filmes exploram o “crime” sob óticas diferentes, de forma interessante e inteligente. Vale a pena conferir.


TESE SOBRE UM HOMICIDIO -  Este filme argentino, muito bem produzido, tendo como protagonista o excelente Ricardo Darín, no papel de Roberto Bermudez, conta a história de um professor de Direito Penal que recebe Gonzalo, como aluno para um curso de 06 meses, o filho de um jurista espanhol, velho amigo do professor.

O professor defende a tese que um crime é esclarecido pelo “detalhes” que normalmente passam despercebidos na investigação, e, que provas convencionais, muitas vezes nada provam contra o criminoso.

No entanto, esse “aluno espanhol”, brilhante, mas arrogante e pretencioso, veio para Buenos Aires participar desse curso apenas desafiar o professor. Ou seja, para provar que a tese do professor é equivocada e falha. Para tanto, ele pratica um homicídio dentro do estacionamento da faculdade e partir daí a trama se desenrola numa espécie  jogo de inteligência.

O professor Roberto põe em prática sua tese e constrói um quebra cabeça, chegando à conclusão que o assassino é seu Aluno. Gonzalo, por sua vez, deixa vestígios que não podem provar a autoria do crime, tudo de forma proposital.

O interessante é que o paralelo do filme com a realidade, muitas vezes acontece nos Tribunais, ou seja, as provas não conseguem demonstrar a autoria de um crime, mas pelas circunstâncias, sabe-se quem o praticou.


HANNAH ARENDT – Baseado em fatos reais, essa famosa jornalista, Hannah Arendt (Barbara Sukowa) e seu marido Heinrich (Axel Milberg) são judeus alemães que chegaram aos Estados Unidos como refugiados de um campo de concentração nazista na França. Nos anos 50 surge uma oportunidade para Hannah cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann para a The New Yorker. Ela viaja até Israel, e na volta escreve todas as suas impressões e o que aconteceu, e a revista separa tudo em 5 artigos. Só que aí começa o verdadeiro drama de Hannah: Ela mostra nos artigos que nem todos que praticaram os crimes de guerra eram monstros, e relata também o envolvimento de alguns judeus que ajudaram na matança dos seus iguais. A sociedade se volta contra ela e a New Yorker, e as críticas são tão fortes que até mesmo seus amigos mais próximos se assustam. Hannah em nenhum momento pensa em voltar atrás, mantendo sempre a mesma posição, mesmo com todo mundo contra ela.

Hanna foi mal compreendida, em minha opinião. O que ela coloca em discussão, não é exatamente a culpa do criminoso de guerra, mas a sua demonização.

O que Hanna acertadamente descreve é que Eichmann, durante o julgamento, se mostrava uma pessoa sem muita noção do que representava a acusação ou aquele Tribunal. Eichmann chegava a ser simplório em suas declarações ao afirmar que apenas cumpria ordens e por isso não se sentia culpado ou arrependido.

Hanna observa que as testemunhas relatavam as atrocidades de Auschwitz, mas em nenhum momento as testemunhas apontavam algum tipo de ato direto de Eichmann.

Realmente, nada justifica o holocausto, mas Eichmann, segundo Hannah, também foi uma espécie de ”instrumento” das atrocidades de Hitler, resultado de uma “lavagem cerebral”.

Eichmann foi justamente condenado (pena de morte), e Hannah apenas mostrou uma visão diferente, partindo da compreensão da ótica do próprio acusado, inclusive fazendo comparação com judeus que teriam colaborado com os nazistas.

Um filme intressante de se ver.



EU ANNA – Filme Inglês, Alemão e Francês, ainda em cartaz em poucas salas de S. Paulo (Reserva Cultural), conta a história de um policial que está sem conseguir dormir direito há semanas devido à recente separação. O detetive Bernie Reid (Gabriel Byrne) ronda a cidade de madrugada. Ao atender uma chamada, ele parte para um apartamento onde encontra um homem morto. Lá vê de relance uma mulher, Anna Welles (Charlotte Rampling), que lhe chama a atenção. Eles apenas se conhecem realmente em uma festa de solteiros e não demora muito para que engatem um relacionamento. O que Bernie não imaginava era que Anna era a assassina que estava procurando.

O que eu destaco, é que neste caso, Anna tem um problema de perda de memória recente. Certa vez, quando estava passeando com sua netinha, esqueceu que estava cuidando da criança e resolveu voltar para casa. Logo em seguida lembrou-se dela e voltou para pegá-la, mas era tarde de mais. A criança desceu do carrinho e foi atropelada por um carro e veio a óbito.

A partir desse evento, ela passou a demonstrar uma psicopatia, fantasiando que nada daquilo tinha acontecido e imaginava que a filha e a neta ainda estavam vivendo em sua casa.

Quanto ao assassinato, ela nada se lembra de início. Na verdade, aos poucos, Anna vai percebendo que várias situações estão relacionadas à pessoa que havia conhecido na primeira noite da festa dos solteiros, e vai se lembrando da noite do assassinato. Essas lembranças fracionadas é o suficiente para revelar que tudo aconteceu dentro do apartamento desse homem, foi por legítima defesa.