Três recentes filmes exploram o “crime”
sob óticas diferentes, de forma interessante e inteligente. Vale a pena
conferir.
TESE
SOBRE UM HOMICIDIO - Este filme
argentino, muito bem produzido, tendo como protagonista o excelente Ricardo
Darín, no papel de Roberto Bermudez, conta a história de um professor de
Direito Penal que recebe Gonzalo, como aluno para um curso de 06 meses, o filho
de um jurista espanhol, velho amigo do professor.
O professor defende a tese que um crime
é esclarecido pelo “detalhes” que normalmente passam despercebidos na
investigação, e, que provas convencionais, muitas vezes nada provam contra o
criminoso.
No entanto, esse “aluno espanhol”,
brilhante, mas arrogante e pretencioso, veio para Buenos Aires participar desse
curso apenas desafiar o professor. Ou seja, para provar que a tese do professor
é equivocada e falha. Para tanto, ele pratica um homicídio dentro do
estacionamento da faculdade e partir daí a trama se desenrola numa espécie jogo de inteligência.
O professor Roberto põe em prática sua
tese e constrói um quebra cabeça, chegando à conclusão que o assassino é seu
Aluno. Gonzalo, por sua vez, deixa vestígios que não podem provar a autoria do
crime, tudo de forma proposital.
O interessante é que o paralelo do
filme com a realidade, muitas vezes acontece nos Tribunais, ou seja, as provas
não conseguem demonstrar a autoria de um crime, mas pelas circunstâncias,
sabe-se quem o praticou.
HANNAH ARENDT – Baseado em fatos reais, essa famosa jornalista, Hannah
Arendt (Barbara Sukowa) e seu marido Heinrich (Axel Milberg) são judeus alemães
que chegaram aos Estados Unidos como refugiados de um campo de concentração
nazista na França. Nos anos 50 surge uma oportunidade para Hannah cobrir o
julgamento do nazista Adolf Eichmann para a The New Yorker. Ela viaja até
Israel, e na volta escreve todas as suas impressões e o que aconteceu, e a
revista separa tudo em 5 artigos. Só que aí começa o verdadeiro drama de
Hannah: Ela mostra nos artigos que nem todos que praticaram os crimes de guerra
eram monstros, e relata também o envolvimento de alguns judeus que ajudaram na
matança dos seus iguais. A sociedade se volta contra ela e a New Yorker, e as
críticas são tão fortes que até mesmo seus amigos mais próximos se assustam.
Hannah em nenhum momento pensa em voltar atrás, mantendo sempre a mesma
posição, mesmo com todo mundo contra ela.
Hanna
foi mal compreendida, em minha opinião. O que ela coloca em discussão, não é exatamente
a culpa do criminoso de guerra, mas a sua demonização.
O
que Hanna acertadamente descreve é que Eichmann, durante o julgamento, se
mostrava uma pessoa sem muita noção do que representava a acusação ou aquele
Tribunal. Eichmann chegava a ser simplório em suas declarações ao afirmar que
apenas cumpria ordens e por isso não se sentia culpado ou arrependido.
Hanna
observa que as testemunhas relatavam as atrocidades de Auschwitz,
mas em nenhum momento as testemunhas apontavam algum tipo de ato direto de
Eichmann.
Realmente, nada justifica o
holocausto, mas Eichmann, segundo Hannah, também foi uma espécie de
”instrumento” das atrocidades de Hitler, resultado de uma “lavagem cerebral”.
Eichmann foi justamente
condenado (pena de morte), e Hannah apenas mostrou uma visão diferente,
partindo da compreensão da ótica do próprio acusado, inclusive fazendo comparação com judeus que teriam colaborado com os nazistas.
Um filme intressante de se ver.
EU
ANNA
– Filme Inglês, Alemão e Francês, ainda em cartaz em poucas salas de S. Paulo
(Reserva Cultural), conta a história de um policial que está sem conseguir
dormir direito há semanas devido à recente separação. O detetive Bernie Reid
(Gabriel Byrne) ronda a cidade de madrugada. Ao atender uma chamada, ele parte
para um apartamento onde encontra um homem morto. Lá vê de relance uma mulher,
Anna Welles (Charlotte Rampling), que lhe chama a atenção. Eles apenas se
conhecem realmente em uma festa de solteiros e não demora muito para que engatem
um relacionamento. O que Bernie não imaginava era que Anna era a assassina que
estava procurando.
O que eu destaco, é que neste caso,
Anna tem um problema de perda de memória recente. Certa vez, quando estava
passeando com sua netinha, esqueceu que estava cuidando da criança e resolveu
voltar para casa. Logo em seguida lembrou-se dela e voltou para pegá-la, mas
era tarde de mais. A criança desceu do carrinho e foi atropelada por um carro e
veio a óbito.
A partir desse evento, ela passou a
demonstrar uma psicopatia, fantasiando que nada daquilo tinha acontecido e
imaginava que a filha e a neta ainda estavam vivendo em sua casa.
Quanto ao assassinato, ela nada se
lembra de início. Na verdade, aos poucos, Anna vai percebendo que várias
situações estão relacionadas à pessoa que havia conhecido na primeira noite da
festa dos solteiros, e vai se lembrando da noite do assassinato. Essas
lembranças fracionadas é o suficiente para revelar que tudo aconteceu dentro do
apartamento desse homem, foi por legítima defesa.